16/05/2001

 
Como uma família transformou o drama do filho em força e ajuda a outras pessoas

A História de Pedro

Hélcio Nagamine/Isto É

ATITUDE A família de Pedro deixou a ciência de lado e investiu em qualidade de vida


(por Lia Bock)

As pessoas costumam ter fé na medicina. Acreditam em suas respostas e confiam nas soluções. E quando nem a mais alta tecnologia e os mais renomados médicos explicam a origem de uma doença e apontam saídas para o problema? Cai por terra toda a crença depositada na ciência. É comum a revolta ou a sensação de abandono. Mas, apesar da dor de enfrentar uma enfermidade grave, ainda é possível perceber que nem todas as portas estão fechadas para a vida. A história do garoto Pedro Gonçalves, 12 anos, é a prova mais contudente disso. Pedro nasceu uma criança sadia. Andou. falou e brincou até um ano e meio, quando começou a ter pequenas convulsões. Foi levado a diversos médicos e submetido a vários exames, como ressonância magnética e tomogratia computadorizada. Mas nenhuma anormalidade foi detectada e ninguém descobriu a causa do problema. O menino chegou a ser internado mais de 20 vezes. Com o tempo, o lado esquerdo de seu corpo paralisou. Aos poucos, piorava. Em janeiro de 1991, depois de sair de mais uma internação, ele deixou de falar, andar e sentar. Atualmente, Pedro vive quieto em sua cadeira, comunicando-se com o mundo apenas pelo olhar. Seus pais continuam sem respostas para o drama do filho. "Durante muitos anos, buscamos uma saída. Mas hoje já sabemos que a medicina não tem resposta para tudo e resolvemos investir na qualidade de vida do nosso filho. Queremos ser felizes", conta a mãe, Liane Poggetti, 38 anos, orgulhosa com cada progresso do filho nas sessões de fisioterapia e na escola para crianças com necessidades especiais que Pedro frequenta. Mas a família apostou também em solidariedade com outras pessoas que passam pelo mesmo sofrimento. O pai, Manoel Gonçalves, 43 anos, revirou o mundo pela internet pala achar informações sobre doenças raras, montou um site para o filho e formou um banco de dados sobre tudo o que descobriu. Hoje, o trabalho serve de guia para outros que vivem situações parecidas. A história de Pedro e o banco de dados estão no site pedro.psinet.com.br. A família foi mais longe. "Criamos uma associação no final do ano passado, a Rampa. Reunimos pais de crianças com doenças raras e divulgamos informações'', afirma Gonçalves. Os olhos do pai de Pedro brilham quando ele fala de outras pessoas a quem ajudou e até dos mais de 50 e-maiIs que recebe todos os dias em solidariedade ao menino. Assim a família cria força e mantém acesa a esperança. Para o médico Affonso Tarantino, integrante da Academia Nacional de Medicina - instituição médica mais antiga do Rio e da qual só participam médicos com mais de 15 anos de profissão -, essa é uma das melhores formas de lidar com a adversidade. ''Não podemos esquecer que há algumas décadas tuberculose era uma doença sem cura. A esperança não está diretamente ligada às saídas da medicina mas ela tem de ser mantida, independentemente das condições do paciente ou de descobertas da ciência." Outros especialistas concordam. ''Transformar um sentimento de impotência em busca de algo dá a sensação de crescimento, o que é muito importante para a manutenção da felicidade. Construir é sempre melhor do que se abater. A família de Pedro é um bom exemplo disso, comenta Maria Cecília Roth, professora de psicologia hospitalar da PUC-SP. É por isso que Gonçalves e Liane não se intimidam. "Enquanto o Pedro respirar, terá os primos brincando por perto, verá o mar, vai viver. E se ele estiver no fundo do poço, vamos plantar grama e flores para colorir e melhorar o lugar", promete o pai.


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